Livro-Poster Canção


Trechos do texto de Livia Lazzaro Rezende para o Livro-Poster Canção #1.


"O livro que você tem em mãos é uma bela e concreta resposta àquilo que estudiosos vêm teorizando 
há mais de meio século: o jogo e suas regras. A Teoria dos Jogos é uma área de estudos que procura investigar como jogadores envolvidos em uma determinada situação complexa tomam decisões e assumem estratégias visando o melhor retorno para si próprios. Na base dos jogos, acredita-se, estão dois princípios que podem ser combinados ad infinitum, o da competição e o da cooperação. Um jogador pode entender a ação de outro como competição ou cooperação e, assim, gerar condições 
de jogo que perpetuem outras escolhas e ações competitivas ou cooperativas. O Livro Poster-Canção 
propõe uma situação próspera: trata-se de um jogo no qual todos cooperaram e por isso foram recompensados. 
(...)

Cooperação e colaboração foram as regras do jogo desde o início. Em finais de 2011, Coral propôs o 
projeto do Livro-Poster Canção a alguns dos diversos artistas visuais que vinham cruzando seu caminho desde que chegou no Rio de Janeiro. Os artistas trabalhariam na interpretação de músicas transgressoras que de uma forma ou de outra alteraram o curso da expressão artística ocidental.
(...)

O projeto do Livro-Poster Canção não somente promoveu o intercâmbio de experiências, técnicas e estilos entre os artistas convidados. Ele promoveu também um repensar coletivo da relação entre o visual e o musical. (...) Partindo de um pressuposto menos ambicioso mas não menos nobre, o Livro-Poster Canção repensa a relação entre música e arte, visão e audição, memória visual, auditiva e afetiva. Como alguns dos artistas mais questionadores de nossa atualidade interpretariam músicas que também questionaram os tempos nos quais foram compostas? 

(...)

A escolha das músicas seguiu o princípio da variedade, além do da natureza transgressora. Elas deveriam pertencer àquilo que se convencionou chamar de ‘estilo musical’ de forma diversa. Entraram não apenas canções representativas de estilos tradicionalmente associados à rebeldia como o rock e o hip-hop; Igor Fyodorovich Stravinsky que o diga. Ao abrir o Livro-Poster Canção você vai se deparar com uma deliciosa cacofonia músico-visual que vai da MPB, funk, e jazz até as músicas eletrônicas e clássicas, passando pelos movimentos Manguebeat e Northern Soul. Tudo valia, desde que a melodia, a letra ou o contexto cultural da canção tenham sido transgressores, isto é, tenham atuado como satisfação da necessidade que só se sacia na novidade ou descumprimento da lei social. Nada mal para um projeto que procurou subverter as regras do jogo desde o início! 

A mecânica da curadoria também atendeu à diversidade de artistas e canções. Coral escolheu uma 
primeira leva de dupla-artista seguindo o critério de consonância ou dissonância entre seus estilos artísticos pessoais. (...) Um sorteio de nomes decidiu quem trabalharia com quem na segunda leva de ilustrações. E quis o acaso uma repetição: da mesma forma como Coral havia escolhido Pedro Themoteo e Maurício Planel para uma dupla pela incongruência aparente de seus estilos, seus nomes foram reunidos novamente pelo simples lançar da sorte. Bingo, diria Jorge Luis Borges. Dizem as boas línguas que o grande escritor só aceitou o cargo de diretor da Biblioteca Nacional argentina depois de saber que seria o terceiro diretor cego da instituição. Isso trouxe conforto e direção à sua decisão. Borges acreditava que o universo fornece seu aval por meio de repetições. ‘Ufa’, pensou Coral, ‘estamos no caminho certo.’ E disso não terá dúvida você, que está prestes a folhear o livro, destacar suas páginas, emoldurá-las, colocar alto e no ‘repeat’ uma das canções que ainda não conhece, logo após aquela que ama de paixão. O livro é seu, use-o e abuse-o como desejar. Não há regras. Este é o jogo."

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